Federação da Agricultura pretende levar informações ao governador Renan Filho para fomentar o uso da tecnologia social de armazenamento de água nas regiões mais secas
Álvaro Müller
A Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Alagoas tem trabalhado para articular instituições públicas e privadas em torno de um projeto de construção de barragens subterrâneas. O objetivo é garantir o abastecimento de água para as famílias de agricultores das regiões mais secas. Nessa quarta-feira, 13, o presidente da Faeal, Álvaro Almeida, e o pesquisador da Embrapa Tabuleiros Costeiros, Antônio Dias Santiago, visitaram a Unidade de Execução de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Solos, no Recife, para conhecer o projeto de zoneamento de áreas potenciais para construção deste tipo de barragem em Alagoas.
“O nosso intuito é buscar subsídios para mostrar ao governador Renan Filho que as barragens subterrâneas – cujo preço médio de construção oscila entre R$ 15 mil e R$ 20 mil, a depender da extensão –, representam uma das soluções mais viáveis para a captação e armazenamento de água da chuva. Também queremos buscar parceiros como o Sebrae, para que, juntos, possamos nos somar a um programa de política pública, capitaneado pelo estado, que contribua com a erradicação da fome e da pobreza, com a inserção social e produtiva das famílias agricultoras”, afirma Álvaro Almeida.
Alagoas é o primeiro estado do semiárido brasileiro a realizar o zoneamento de áreas potenciais para a construção de barragens subterrâneas. Denominado ZonBarragem, o projeto tem duração de quatro anos, com término previsto para julho de 2021, e é dividido em três etapas. A primeira delas consiste na elaboração do mapa de potenciais do estado, que deve ser concluído em aproximadamente quatro meses. Em seguida, haverá a etapa de validação das áreas com potencial para construção das barragens e, posteriormente, a sensibilização e capacitação de técnicos e agricultores, sistematização e socialização dos resultados.
Segundo a pesquisadora da Embrapa e coordenadora do ZonBarragem, Maria Sonia Lopes da Silva, o projeto reafirma a importância da convivência com o semiárido como estratégia de sustentabilidade, prioriza o aproveitamento dos potenciais existentes na região e reforça a necessidade de obras de pequeno porte e descentralizadas, tecnologias sociais que atendam à demanda hídrica das famílias rurais isoladas.
“O estudo abrirá possibilidades de captação de fundos nacionais e internacionais, e também poderá ser integrado a programas de políticas públicas já em andamento, que buscam suprir a demanda hídrica das populações rurais. Desta forma, esperamos contribuir com a soberania e segurança alimentar e nutricional das famílias e de seus animais, a diminuição da fome e da pobreza, o aumento da resiliência às mudanças climáticas da região e a inclusão socioprodutiva das comunidades do campo”, argumenta Sonia.
Parcerias são fundamentais para que tudo isso aconteça. O orçamento previsto pelo Governo Federal para o ZonBarragem, em 2019, é de R$120 mil, mas, diante do atual cenário econômico, a expectativa é de que somente 30% desta verba sejam liberados.
Zoneamento agroecológico
Para definir os locais de construção das barragens subterrâneas, é preciso levar em consideração alguns parâmetros, como proximidade aos leitos de rios e riachos, vazão e qualidade da água e do solo. Caso decida por uma política pública que viabilize tais edificações, o Governo do Estado já tem à sua disposição, desde 2014, os resultados do Zoneamento Agroecológico de Alagoas (ZAAL), outro importante estudo desenvolvido pela Embrapa.
O documento técnico-científico identifica as potencialidades e vulnerabilidades ambientais, com foco na aptidão das terras para o uso agropecuário. Entre outras informações, reúne textos, mapas, imagens e softwares com o diagnóstico dos solos, potencial agroecológico, para a irrigação, e a aptidão climática para o cultivo de algodão, cana-de-açúcar, feijão Vigna e Phaseolus, mamona, mandioca, milho e sorgo.
“Todas essas informações dão as condições necessárias para que se possa planejar a agricultura e a pecuária de Alagoas. Além disso, contribuem para a preservação ambiental, com diversas ferramentas que auxiliam na melhoria da gestão agropecuária. Este é o legado do ZAAL”, avalia o pesquisador da Embrapa envolvido no projeto, Alexandre Barros.
“A aproximação com instituições como a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Alagoas é importante, pois ajuda a disseminar essas informações que já estão organizadas e disponíveis para compartilhamento, como forma de buscar o aperfeiçoamento do sistema de produção, tanto no território alagoano quanto no semiárido em geral. Há ainda a necessidade de recursos para realização de capacitação de técnicos e agentes de desenvolvimento do estado no uso desta importante ferramenta”, observa o coordenador técnico da Embrapa Solos/UEP Recife, André Júlio do Amaral.