Uma medida do Ministério da Agricultura vai beneficiar pequenos laticínios com dificuldades de vender sua produção por causa da pandemia do coronavírus. Nessa terça, 31 de março, o órgão publicou um ofício circular em que autoriza laticínios com o Selo de Inspeção Federal – SIF – a comprar leite de pequenas indústrias com selos de inspeção estaduais ou municipais.
A iniciativa partiu de uma ação conjunta entre a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil – CNA – e entidades do setor. “Até hoje, para fazer o envio e o processamento do leite, as duas indústrias precisavam ter inspeção federal. Esse ofício vai permitir que qualquer outra indústria, com inspeção sanitária de outras esferas do governo, possa encaminhar seu leite para indústrias maiores com SIF”, afirma a coordenadora de Produção Animal da CNA, Lilian Figueiredo.
Para Domício Silva, presidente da Associação dos Criadores de Alagoas – ACA – e um dos vice-presidentes da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Alagoas – Faeal –, a medida emergencial desburocratiza a operacionalização da compra do leite neste momento de crise, em que os pequenos laticínios são os mais afetados por não terem capacidade de estocagem e diversificação de produtos.
“Quem trabalha na produção de queijo, por exemplo, não consegue armazenar nem dispõe de capital de giro para suportar de 30 a 60 dias de crise. Muitos desses produtores fornecem para lanchonetes, restaurantes e outros estabelecimentos que também estão sendo afetados. Uma das saídas é continuar captando o leite e vendê-lo para laticínios de maior porte e a medida do Ministério da Agricultura pode ser uma saída”, comenta Domício.
O presidente da Faeal, Álvaro Almeida, ressalta que o ofício circular do Ministério da Agricultura beneficia toda a cadeia produtiva. “O mais importante é que a medida permite que os pequenos produtores de leite voltem a fornecer matéria-prima para a pequena indústria, que retomará a produção para atender aos grandes laticínios. Sem dúvida este é um passo importante para amenizar a crise causada pelo coronavírus”, avalia.
Presidente do Sindicato Rural dos Produtores de Leite de Alagoas – Sindileite –, André Ramalho também reconhece a importância da medida do Governo Federal. “Alagoas tem 32 laticínios com inspeção estadual que basicamente trabalham com a produção de queijo coalho e muçarela e estão com dificuldade de escoar a produção para estabelecimentos como restaurantes e lanchonetes. Muitos desses laticínios reduziram a captação e alguns estão parando de captar. Não sabemos até quando perdurará a situação, mas esta medida dá condição para que as queijarias continuem a captação e repassem para a indústria de leite longa vida e para as indústrias de grande porte que trabalham com queijo e têm acesso a grandes redes de supermercados”, observa.
Segundo Lilian, devido à crise do coronavírus, os food services estão fechados e os microlaticínios que forneciam leite pasteurizado para essa linha de restaurantes e queijarias ficaram prejudicados. “Aqueles produtores que não estavam vendendo seu leite pois o laticínio para o qual forneciam estava sem mercado, voltarão a ter seu leite captado dando fluidez ao mercado de laticínios, principalmente na produção de leite UHT, que está com alta demanda no momento”, explicou.
De acordo com o ofício, diante dos riscos de desabastecimento de leite e produtos lácteos em algumas regiões e de inviabilidade dos estabelecimentos de pequeno porte frente ao aumento da demanda para elaboração de produtos com prazo de vida longa, como leite UHT e leite em pó, os estabelecimentos sob inspeção federal poderão receber leite a granel de uso industrial de estabelecimentos registrados em outras instâncias de inspeção.
A medida vale, em caráter excepcional, durante o período de calamidade pública, devendo manter registros auditáveis do recebimento que garantam a rastreabilidade da matéria-prima.