A construção de barragens subterrâneas em Alagoas entrou na lista de prioridades da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos. A afirmação, dita na manhã desta sexta-feira, 10, pelo secretário executivo de Gestão Interna da Semarh, Alex Gama, trouxe esperança para dezenas de produtores rurais do semiárido alagoano, que participaram de uma sessão especial na Assembleia Legislativa.
A sessão sobre barragens subterrâneas foi proposta pela deputada estadual Fátima Canuto (PRTB), a partir de um pleito da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Alagoas (Faeal). A engenheira agrônoma do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar AL), Luana Torres, apresentou uma barragem subterrânea construída em parceria com o Sebrae, no município de São José da Tapera, por meio do programa Sertão Empreendedor. O projeto custou cerca de R$21 mil e, seis meses após a conclusão, já armazena água capaz de abastecer entre cinco e seis famílias.
“A falta de água não será um problema para a realização de plantio de hortaliças ou outras culturas. A segurança alimentar, abastecimento, fornecimento para animais e utilização dessa água para a irrigação deve ser motivação suficiente para aumentar o número de barragens subterrâneas no semiárido de Alagoas”, observou Luana Torres.
“Estamos resolvendo a vida dos produtores rurais das regiões secas, que são pessoas de baixa renda. Transformar vidas nos dá um orgulho muito grande e, além disso, participar desta parceria com o Senar nos permite mostrar, mais uma vez, que o Sertão pode ser uma solução para Alagoas. Tem sol o ano inteiro, terras agricultáveis, só precisa de tecnologia e da boa vontade das autoridades para levar essa tecnologia ao campo”, comenta Ronaldo Moraes, diretor técnico do Sebrae AL.
O agricultor Edésio Melo, de São José da Tapera, conhecido como “Seu Dedé”, também subiu à tribuna da Assembleia Legislativa para falar sobre a sua experiência de sucesso. Ele construiu a primeira barragem, com capacidade para acumular 75 milhões de litros de água, sozinho, “no braço”. A obra durou dois anos. Hoje, cultiva mais de 90 tipos de plantas, entre hortaliças, medicinais e frutíferas, em qualquer época do ano.
“Primeiramente, eu agradeço a Deus e, depois, à barragem subterrânea, pela minha felicidade e da minha família. A minha barragem mantém seis famílias nas nossas origens, sem dizer que ainda abasteço a cidade de Tapera, a feirinha, de segunda a sexta. Água é vida. Se os senhores puderem multiplicar essas barragens, serão bem-vindas, porque a agricultura familiar está necessitada”, pediu Seu Dedé, diante de deputados estaduais e outras autoridades.
Após todos exemplos e estudos apresentados, Alex Gama garantiu que a Semarh tentará incluir a construção de barragens subterrâneas dentre os projetos que recebem apoio financeiro do Governo Federal. “R$21 mil não representam nada, quando você compara aos benefícios gerados por um empreendimento deste. Portanto, quero dizer que nós estaremos muito envolvidos e buscaremos, dentro dos convênios que já temos, a possibilidade de incorporar o programa de barragens subterrâneas”, ressaltou o secretário executivo de Gestão Interna.
Mapeamento
Apontada como uma tecnologia simples, barata e capaz de garantir o sustento de famílias de pequenos agricultores nas regiões mais secas, a barragem subterrânea deve ser construída em locais com solo, relevo e clima adequados. Em Alagoas, pesquisadores da Embrapa realizam o ZonBarragem, um trabalho de mapeamento de áreas com potencial para construção que é inédito no semiárido brasileiro. Mas há um alerta. Com duração de quatro anos e término previsto para 2021, o projeto corre o risco de não ser concluído por falta de recursos financeiros.
“O nosso orçamento total é de R$420 mil, recursos provenientes do Governo Federal. Dos R$120 mil previstos para 2019, até o momento, nós só recebemos R$7 mil. Por isso, eu faço um apelo aos deputados estaduais, para que nos ajudem a manter este projeto tão importante. Queremos contribuir com a soberania e segurança alimentar e nutricional das famílias e de seus animais, a diminuição da fome e da pobreza, o aumento da resiliência às mudanças climáticas da região e a inclusão socioprodutiva das comunidades do campo”, clamou a pesquisadora da Embrapa e coordenadora do ZonBarragem, Maria Sonia Lopes da Silva.
O presidente da Faeal, Álvaro Almeida, chamou a atenção dos parlamentares e demais autoridades para a necessidade do fortalecimento das parcerias com o objetivo de criar um programa sólido de construção de barragens subterrâneas. “Temos condições de fazer muito mais junto ao Governo do Estado, às prefeituras – que têm as caçambas, as retroescavadeiras, as máquinas – e outras instituições. Assim, faremos com que o pequeno produtor saia da agonia dos períodos de estiagem, produza e melhore a qualidade de vida dele, da família e da sociedade”, ponderou.
“Este é o momento de discutir e juntar forças, porque não será apenas o legislativo, mas é preciso um projeto capitaneado pelo Governo do Estado, com parcerias, para que a gente consiga construir barragens subterrâneas e mudar a vida das comunidades do semiárido de Alagoas, por meio do fortalecimento da agricultura familiar e da bacia leiteira, o que também contribui para a diminuição do êxodo rural”, reforçou a deputada estadual Fátima Canuto.