As plantas medicinais são verdadeiras farmácias vivas que podem ajudar a melhorar a saúde da população com baixo custo e ainda gerar renda para os produtores rurais. Além disso, esse conhecimento que mistura ciência e sabedoria popular pode mudar a trajetória de muitas pessoas.
A história do assistente social Anderson Rafael da Silva com os fitoterápicos começou em um curso de Formação Profissional Rural do Senar sobre Plantas Medicinais. “Conheci a iniciativa por meio da mobilizadora Ivaneide Pascoal, de Palmeira dos Índios, que falou sobre a capacitação e eu me interessei para trazer para o município de Belém”, conta.
Ele então articulou institucionalmente, junto à Secretaria de Saúde de Belém, e o curso foi ofertado para 18 profissionais do município. “Após esse primeiro contato, passei a observar a existência de muitas plantas medicinais na nossa região, que podem ser usadas para produzir fitoterápicos, como o mulungu e o jatobá. Surgiu então a ideia de iniciar o projeto “Fitoterapia no SUS – a utilização de plantas medicinais na cura e prevenção de doenças”, explica.
A ação teve início em 2022, com o uso de plantas nativas e de baixo custo na produção e distribuição de produtos fitoterápicos para a população local. “Desde então, promovemos oficinas de fabricação de xarope, calmante natural, bala de gengibre e tempero natural”, informa.
As oficinas são realizadas a partir de ações descentralizadas, que acontecem na zona urbana e na zona rural. “Como o objetivo do projeto é produzir e distribuir fitoterápicos como uma nova opção terapêutica, pensamos também que essas atividades podiam ser inclusivas e ofertamos as capacitações a portadores de doenças crônicas e pessoas com transtorno mental”, diz Anderson Rafael, que há sete anos atua na Equipe Multiprofissional da Atenção Básica em Saúde, do município de Belém.
O xarope processado a partir do uso do jatobá combate bronquite, sintomas da asma, tosse, além de gripes e resfriados. O mulungu e a flor de camomila fornecem um calmante natural. “O mulungu tem ação antidepressiva e, por seu efeito tranquilizante, também age nos casos de síndrome do pânico, compulsões diversas, neurose e transtorno de ansiedade, associado à flor de camomila que possui propriedade ansiolítica e calmante formam um produto natural eficaz”, explica.
O projeto também produz um tempero natural muito usado por hipertensos, à base de açafrão, alecrim, orégano e manjericão. Um outro produto popular é a bala de gengibre, que possui propriedades funcionais, terapêuticas e ação anti-inflamatória, indicada no alívio de desconforto na garganta, nos resfriados e gripes.
Reconhecimento
O empenho de Anderson Rafael e da equipe do projeto já rendeu frutos fora do município de Belém. “Em abril, nosso projeto foi selecionado para participar da mostra ‘Alagoas aqui tem SUS’, quando recebemos o prêmio de terceira melhor experiência exitosa do SUS no nosso estado”, afirma.
Com o prêmio, o projeto foi selecionado para participar da mostra ‘Brasil aqui tem SUS’, em Porto Alegre. “Foi um momento muito importante, que deu visibilidade para as nossas ações e, desde então, outros municípios passaram a querer conhecer a nossa experiência”, completa.
Mas os planos estão apenas começando. Para o futuro, a expectativa do grupo é robustecer o projeto, implantando um espaço para dispensar os produtos e viabilizar o controle de qualidade por parte dos órgãos competentes, assim como viabilizar a criação de uma “farmácia viva”, com o objetivo de promover ainda mais acesso a medicamentos fitoterápicos de qualidade, seguros e eficazes.
Papel do Senar
A instrutora do Senar Alagoas, Rizomar Lima, é uma entusiasta da medicação natural, entregando a cada curso muito conhecimento, além da sua paixão pelas plantas medicinais. “Essa formação é muito importante porque leva conhecimento sobre o tema às pessoas, que passam a se informar e, com isso, a respeitar os fitoterápicos e os benefícios que podem gerar nas suas vidas”, afirma.
Além de conhecer o poder das plantas medicinais, o curso também proporciona, a quem participa, a possibilidade de geração de renda. “O que eu tenho percebido ao longo do tempo, é o interesse das pessoas pelo aprendizado. As pessoas querem se informar cada vez mais, porque também buscam mais qualidade de vida para si e para os outros”, conta.
Segundo ela, a formação estimula a busca pela saúde e pelo bem-estar, mas também o uso da forma correta de cada planta. Ao entender como as substâncias agem no organismo, o participante do curso passa a ter mais critério ao usar medicamentos, principalmente o excesso dos produtos alopáticos observado nos dias de hoje, muitas vezes sem orientação profissional. “Tudo isso acaba sendo de grande valia para as pessoas que participam desse treinamento”, diz.
Para Graziela Freitas, gerente técnica do Senar Alagoas, os cursos de Formação Profissional Rural integram o processo educativo defendido pela instituição, que visa desenvolver conhecimento, habilidades e atitudes para uma vida no campo cada vez mais produtiva.
“O objetivo é atender às necessidades da população que vive na zona rural, sejam eles produtores, trabalhadores, integrantes de sindicatos, cooperativas, que precisam ampliar seus conhecimentos técnicos para melhorar suas competências, aumentar sua produtividade e rentabilidade e, com isso, promover mais desenvolvimento ao setor agropecuário”, explica.
No caso específico do curso de Plantas Medicinais, a oferta visa atender às demandas sempre crescentes por mais qualidade de vida e possibilidade de obter uma nova fonte de renda no meio rural. “Com conhecimento nessa área, eles podem ter um acesso mais seguro e fazer o uso correto das plantas medicinais para a produção de fitoterápicos. Isso, ao mesmo tempo, aprimora as habilidades dos alunos, promove o uso sustentável da nossa rica biodiversidade e ajuda no desenvolvimento de uma nova cadeia produtiva que, no caso do município de Belém, chega à população de forma gratuita através do SUS”, completa a gerente.
O Ministério da Saúde encara o assunto como de interesse público e instituiu a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos (PNPMF), que constitui parte essencial das políticas públicas de saúde, meio ambiente, desenvolvimento econômico e social para promover melhorias na qualidade de vida da população.
As ações decorrentes dessa política são consideradas fundamentais para a melhoria do acesso da população a plantas medicinais e produtos fitoterápicos de forma orientada, segura e eficiente. São consideradas plantas medicinais, aquelas que contém substâncias com propriedades medicinais em suas folhas, flores, raízes ou cascas.
Tais substâncias podem ter efeitos terapêuticos no organismo humano e são utilizadas para tratamento ou alívio de doenças, sintomas ou condições de saúde, desde que devidamente atestadas. O fitoterápico, por sua vez, é o produto obtido a partir de plantas medicinais. Eles podem estar disponíveis na forma de comprimidos, cápsulas, xaropes, cremes, entre outras apresentações.
O mais importante, segundo a comunidade científica internacional, é partir de uma base sólida de conhecimentos. Junto da sabedoria popular, as boas práticas aplicadas em treinamentos e capacitações podem transformar as plantas em aliadas na prevenção e na cura de diversas doenças. O “lambedor”, os chás, pomadas, óleos e extratos atravessam gerações e fazem parte da cultura de boa parte do mundo. Com conhecimento e técnica, eles podem proteger a saúde, a tradição e a natureza.