Uma pesquisa realizada com 100 dos 891 ex-alunos do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural – Senar Alagoas – aponta dados positivos sobre a importância socioeconômica e cultural da aprendizagem rural na vida dos jovens alagoanos. Capacitados entre os anos de 2013 a 2019, com idade de 14 a 24 anos, os egressos responderam a um questionário virtual e 90% disseram ter se desenvolvido pessoal e profissionalmente com a capacitação. 92% perceberam uma melhoria na qualidade de vida ainda durante a participação nos cursos.
Os resultados constam na pesquisa intitulada “A importância da aprendizagem e sua efetivação em Alagoas”, realizada por Rita Gouvêa, assistente social, técnica em Agropecuária e instrutora do Senar Alagoas, em parceria com José Crisólogo de Sales Silva, agrônomo, mestre em Ciências Agrárias, doutor em Ciências e professor da Universidade Estadual de Alagoas – Uneal. O trabalho foi aprovado para apresentação no 10º Encontro Científico Cultural – ENCCULT –, evento coordenado pela Uneal, que acontecerá entre os dias 1º e 4 de setembro.
Questionados sobre os benefícios da aprendizagem, muitos entrevistados fizeram referência à aquisição de conhecimentos, preparação para o mercado de trabalho e à oportunidade do primeiro emprego que veio com a capacitação do Senar. “Estão expressas não somente as vantagens financeiras, mediante a garantia de um salário mínimo/hora entre outros benefícios, mas, sobretudo, a formação para a cidadania dos jovens aprendizes. Portanto, é possível afirmar que o programa do Senar tem uma importância significativa para os jovens e seus familiares”, avalia Rita Gouvêa.
A pesquisa também traçou um perfil socioeconômico dos ex-alunos. Apenas 1% dispõe de renda familiar com quatro salários ou mais. “Os dados trazem o perfil do jovem carente, que necessita da renda do trabalho para si, para a sua família. A formação profissional garantirá sua inserção no mercado de trabalho com condições dignas”, observa Rita, que também é integrante do Grupo de Pesquisa Políticas Públicas e Processos Organizativos da Sociedade, da Faculdade de Serviço Social da Universidade Federal de Alagoas (Ufal).
Os pesquisadores ainda avaliaram os entraves e as possibilidades para a efetivação da aprendizagem em Alagoas. De acordo com o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), o estado tem potencial para preencher mais de 24 mil vagas, se considerado o máximo de 15% de aprendizes nas empresas, mas apenas 3,8 mil dessas vagas estão preenchidas. Os reflexos aparecem em 2019, no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), onde Alagoas registra o segundo pior índice do Brasil na cota de aprendizagem. São apenas 3.766 jovens no mercado de trabalho por meio do Programa, o que representa apenas 32,04% do potencial alagoano.
Apesar de reconhecer o avanço obtido pelo esforço coletivo das instituições federais e estaduais de natureza pública e privada, e das organizações de direito de defesa dos interesses da criança e do adolescente com a aprovação de três projetos de lei relativos a efetivação da aprendizagem profissional em Alagoas, Rita e José Crisólogo propõem a abertura de um diálogo amplo e fortalecedor dos processos de democracia, de governança, de transparência e proximidade do Estado com a sociedade.
“Consideramos necessária a criação de um fórum de debates que envolva todos os sujeitos já inseridos e os interessados, estimulando a discussão para possíveis encaminhamentos com vistas ao fortalecimento da lei da aprendizagem no Estado, objetivando fomentar uma discussão efetiva sobre sua operacionalização e ampliação de sua abrangência para que contemple um maior número de vagas para os jovens aprendizes”, sugerem os pesquisadores.