Após enfrentar o agosto mais seco dos últimos 107 anos, de acordo com os dados da Usina Utinga Leão, os produtores rurais de Alagoas tiveram um prognóstico animador. Não há previsão de estiagem severa, pelo menos, para a próxima década, segundo o meteorologista Luiz Carlos Baldicero Molion, PhD pela Universidade de Wiscosin (EUA), uma das escolas mais respeitadas do mundo. A previsão foi apresentada em palestra promovida na última segunda, 10, pela Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Alagoas – Faeal – e pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural – Senar AL.

A palestra ocorreu na sede do Senar AL, bairro de Jaraguá, em Maceió. “Devemos nos preocupar a partir de 2034, quando estou prevendo um El Niño bastante rigoroso, semelhante ao que ocorreu em 2015 e 2016 e que causou uma redução muito grande na nossa chuva”, afirmou o cientista. Para chegar a este prognóstico, Luiz Carlos Molion recorreu aos dados de instituições de pesquisa brasileiras e de países como EUA e Inglaterra. A previsão do meteorologista é o resultado de uma análise comparativa de índices registrados desde a primeira metade do século passado até os dias atuais.

“De maneira geral, o período entre 1964 e 1975, semelhante ao atual, apresentou chuvas mais regulares com totais em torno da média. Por similaridade ao período de 1998 a 2001, as chuvas poderão ficar cerca de 20% abaixo da média em 2018 e 5% em 2019. É importante reservar água e aí há um paradoxo: a nossa região falta chuva, mas não falta água. O rio São Francisco perdeu 99 m³/s nos últimos 40 anos, mas ainda joga no oceano 600 m³/s, ou seja, 52 bilhões de litros por dia. É necessário usar essa água e perenizar o rio com obras hidráulicas”, sugere Molion.

Segundo o pesquisador, a água do canal do Sertão tem que ser utilizada para a agricultura de alto retorno, a exemplo das frutíferas. “Infelizmente, a tradição leva a se plantar feijão, milho, macaxeira, uma agricultura que não dá retorno econômico. Temos que mudar isso. A Embrapa lançou, há quatro anos, uma variedade de uva, a BRS Magna, que produz 30 toneladas por hectare e o ciclo é de 97 dias. Como nós não temos limitação de temperatura aqui, essa uva poderia dar três safras por ano, ou seja, 90 toneladas. Se isso for coordenado com a indústria de transformação, na produção de suco, geleia, o valor agregado será bem maior”, exemplifica.

O presidente da Faeal, Álvaro Almeida, afirma que a Federação está à disposição do Estado para auxiliar na criação de uma política que incentive essa diversificação na produção. “Já conversamos com o secretário da Agricultura para que seja criado um comitê ou uma comissão de fruticultura, com a presença do Estado e do setor agrícola, da mesma forma que foi criada a comissão de grãos. Desta forma, poderemos inserir novas possibilidades no meio rural de Alagoas, para que o produtor possa produzir mais, em menor espaço e com lucratividade”, afirma.

 Secretários

O secretário de Estado da Agricultura, Carlos Henrique Soares, endossa a necessidade de municiar o produtor de conhecimento para que ele possa investir em novas culturas. “Nesse processo de diversificação, nós temos que estimular cada vez mais as iniciativas em grãos e outras atividades, para que sejam exitosas, pois o aumento da produtividade também eleva o PIB alagoano. Com a decadência da cana, o conhecimento é o melhor caminho para que os produtores possam investir em outras atividades”, diz.

A exemplo de Carlos Henrique Soares, também participaram da palestra no Senar os ex-secretários da Agricultura de Alagoas, Antônio Santiago e Álvaro Vasconcelos, este último sempre envolvido com as questões do agronegócio no Estado.

LEGENDA

Evento reuniu produtores na sede do Senar AL

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